Vive-se o caos na saúde pública do Brasil. Com o advento do SUS, todo cidadão brasileiro passou a ter direito a saúde universal e gratuita. Falou-se algo sobre a qualidade desses serviços?
As falhas do SUS já começam no quesito “universalidade”, já que em muitas regiões não são criados meios que garantam ao cidadão sequer acesso à assistência em saúde. Aqueles que alcançam o SUS, não tem assegurado atendimento de qualidade ou mesmo em tempo hábil. Essa “semi-assistência” pode resultar em desfechos finais semelhantes aos daqueles que nem sequer foram atendidos, sob o disfarce de estarem amparados por um Sistema de Saúde.
As falhas do SUS já começam no quesito “universalidade”, já que em muitas regiões não são criados meios que garantam ao cidadão sequer acesso à assistência em saúde. Aqueles que alcançam o SUS, não tem assegurado atendimento de qualidade ou mesmo em tempo hábil. Essa “semi-assistência” pode resultar em desfechos finais semelhantes aos daqueles que nem sequer foram atendidos, sob o disfarce de estarem amparados por um Sistema de Saúde.
Por que a saúde pública e gratuita do Brasil encontra-se nessa situação ? Certamente a resposta: “faltam médicos” é simplista demais para explicar a desestruturação de todo um sistema de tamanha complexidade .
De acordo com o último senso de Demografia Médica do Conselho Federal de Medicina, o Brasil dispõe de 2 médicos a cada 1.000 habitantes, sendo 1,01 na região Norte, 1,2 no Nordeste, 2,67 no Sudeste, 2,09 no Sul e 2,05 na região Centro Oeste.
Com relação ao número de cursos de graduação em medicina, o Brasil ocupa a segunda posição mundial com 167 faculdades, perdendo apenas para a Índia , que com mais de 1 bilhão de habitantes, conta com 222 faculdades. Entre outubro de 2011 e outubro de 2012, formaram-se no Brasil 16.277 novos médicos. Mantido este ritmo, em 2020 o Brasil atingirá a marca de 500.000 médicos, com uma relação de 2,41 médicos a cada 1.000 habitantes, semelhante a atual taxa americana.
Perceba que o número absoluto de médicos não é o nosso gargalo. Imagine uma situação hipotética: O Brasil faria um acordo para atrair milhares de médicos para a realização da prova do REVALIDA. Suponhamos que da noite para o dia, 4.000 médicos estrangeiros fossem aprovados no exame e tivessem seus diplomas validados e reconhecidos em todo território nacional. O número de médicos no Brasil aumentaria exatamente como está acontecendo agora, e se o argumento é a “falta de médicos”, os resultados seriam os mesmos, certo? Errado ! Em resposta à coluna publicada por Rodrigo Constantino , respondeu o senador Humberto Costa:Veja a matéria aqui
Com relação ao número de cursos de graduação em medicina, o Brasil ocupa a segunda posição mundial com 167 faculdades, perdendo apenas para a Índia , que com mais de 1 bilhão de habitantes, conta com 222 faculdades. Entre outubro de 2011 e outubro de 2012, formaram-se no Brasil 16.277 novos médicos. Mantido este ritmo, em 2020 o Brasil atingirá a marca de 500.000 médicos, com uma relação de 2,41 médicos a cada 1.000 habitantes, semelhante a atual taxa americana.
Perceba que o número absoluto de médicos não é o nosso gargalo. Imagine uma situação hipotética: O Brasil faria um acordo para atrair milhares de médicos para a realização da prova do REVALIDA. Suponhamos que da noite para o dia, 4.000 médicos estrangeiros fossem aprovados no exame e tivessem seus diplomas validados e reconhecidos em todo território nacional. O número de médicos no Brasil aumentaria exatamente como está acontecendo agora, e se o argumento é a “falta de médicos”, os resultados seriam os mesmos, certo? Errado ! Em resposta à coluna publicada por Rodrigo Constantino , respondeu o senador Humberto Costa:Veja a matéria aqui
“ O teste do Revalida, nesse contexto, não é aplicável, uma vez que os profissionais estrangeiros vindos ao Brasil por meio do Mais Médicos terão a atuação circunscrita às funções e às áreas previamente determinadas pelo Governo Federal brasileiro. [...] Revalidar o título estrangeiro que possuem seria dar a eles o direito de atuar permanentemente e a qualquer tempo em todo o território nacional, o que fugiria do espírito do programa “
O que significa que aumentar o número de médicos não é o “espírito do programa”, e sim obrigá-los a atuar em locais e condições que, de outra forma, não aceitariam. O senador admite saber que é preciso restringir a liberdade do profissional, já que um médico estrangeiro revalidado jamais trabalharia por opção nas péssimas condições propostas pelo programa. Assim, de forma irresponsável, o governo permite que os profissionais atuem sem a necessidade de comprovação de conhecimentos básicos para o exercício da medicina, feita por um exame que ele mesmo criou e julgou necessário em algum momento.
Se não é a falta de médicos a responsável pelo caos vivenciado no SUS, qual seria a explicação para isso? Simples- um sistema de Saúde universal e gratuito que tenta se manter com recursos muito inferiores ao necessário.
Segundo a OMS, no Brasil a parcela do orçamento federal destinada à saúde (em torno de 8,7%) é menor, inclusive, do que a média dos países africanos (10,6%) e a média mundial (11,7%). Os dados também mostram que o gasto anual do governo com a saúde de cada brasileiro (US$ 477 ou R$ 954), apesar de ter mais do que dobrado na última década, permanece em um patamar inferior à média mundial (US$ 716 ou R$ 1432) e representa apenas uma fração do que países ricos destinam a seus cidadãos. Em Luxemburgo, por exemplo, que lidera a lista, o governo gasta, por ano, US$ 5,8 mil (R$ 11,6 mil) na saúde de cada habitante, ou 12 vezes o valor do Brasil.
Países vizinhos, como Argentina (US$ 869 ou R$ 1.738) e Chile (US$ 607 ou R$ 1.214), também destinam mais recursos na saúde de seus habitantes.
Os dados evidenciam que o nosso sistema público de saúde está subfinanciado e necessita de mais aportes de modo a permanecer gratuito e universal
A lei atual determina que pelo menos 12% da receita dos Estados e 15% da receita dos municípios sejam investidos em saúde. Já a União deve aplicar o correspondente ao valor empenhado no orçamento anterior, corrigido pela variação do PIB. Observe que o Governo Federal fez uma lei para que estados e municípios apliquem um percentual mínimo na área da saúde, mas ele não tem essa obrigação. O texto original da regulamentação da Emenda 29 que visava fixar o investimento em saúde da União em 10% de sua renda bruta foi vetado.Como se não bastasse, a presidente Dilma também vetou o artigo que previa “créditos adicionais” em caso de revisão positiva do valor do PIB, alegando que que a “necessidade de constante alteração nos valores a serem destinados à saúde pela União pode gerar instabilidade na gestão fiscal e orçamentária”. Observe que o investimento do Governo Federal é reduzido ao longo do tempo pelo efeito da inflação, pois o índice de aumento adotado, aumento do PIB, é sempre menor do que o da inflação e do aumento da arrecadação.
Não bastasse o subfinanciamento da saúde no Brasil, parte dos recursos disponibilizados não estão sendo utilizados. A AMB move ação de responsabilidade por improbidade administrativa contra o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, querendo entender os motivos de o Ministério da Saúde ter deixado de investir R$ 17 bilhões no ano de 2012.
Confira as contas aqui
Segundo a OMS, no Brasil a parcela do orçamento federal destinada à saúde (em torno de 8,7%) é menor, inclusive, do que a média dos países africanos (10,6%) e a média mundial (11,7%). Os dados também mostram que o gasto anual do governo com a saúde de cada brasileiro (US$ 477 ou R$ 954), apesar de ter mais do que dobrado na última década, permanece em um patamar inferior à média mundial (US$ 716 ou R$ 1432) e representa apenas uma fração do que países ricos destinam a seus cidadãos. Em Luxemburgo, por exemplo, que lidera a lista, o governo gasta, por ano, US$ 5,8 mil (R$ 11,6 mil) na saúde de cada habitante, ou 12 vezes o valor do Brasil.
Países vizinhos, como Argentina (US$ 869 ou R$ 1.738) e Chile (US$ 607 ou R$ 1.214), também destinam mais recursos na saúde de seus habitantes.
Os dados evidenciam que o nosso sistema público de saúde está subfinanciado e necessita de mais aportes de modo a permanecer gratuito e universal
A lei atual determina que pelo menos 12% da receita dos Estados e 15% da receita dos municípios sejam investidos em saúde. Já a União deve aplicar o correspondente ao valor empenhado no orçamento anterior, corrigido pela variação do PIB. Observe que o Governo Federal fez uma lei para que estados e municípios apliquem um percentual mínimo na área da saúde, mas ele não tem essa obrigação. O texto original da regulamentação da Emenda 29 que visava fixar o investimento em saúde da União em 10% de sua renda bruta foi vetado.Como se não bastasse, a presidente Dilma também vetou o artigo que previa “créditos adicionais” em caso de revisão positiva do valor do PIB, alegando que que a “necessidade de constante alteração nos valores a serem destinados à saúde pela União pode gerar instabilidade na gestão fiscal e orçamentária”. Observe que o investimento do Governo Federal é reduzido ao longo do tempo pelo efeito da inflação, pois o índice de aumento adotado, aumento do PIB, é sempre menor do que o da inflação e do aumento da arrecadação.
Não bastasse o subfinanciamento da saúde no Brasil, parte dos recursos disponibilizados não estão sendo utilizados. A AMB move ação de responsabilidade por improbidade administrativa contra o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, querendo entender os motivos de o Ministério da Saúde ter deixado de investir R$ 17 bilhões no ano de 2012.
Confira as contas aqui
Em 2012, sobraram R$ 9,01 bilhões de créditos não utilizados. Historicamente, 2% a 3% não são investidos em projetos devido à morosidade e burocracia da máquina pública, mas 9,64% do orçamento aprovado é inaceitável. Do total empenhado, R$ 8,3 bilhões foram inscritos em restos a pagar não processados, porém o Tribunal de Contas da União não sabe onde estão essas contas ou se elas existem.
Subfinanciamento e problemas de gestão,com consequências inevitáveis. O número de leitos hospitalares no Brasil, por exemplo, sofreu uma redução de 10,5% entre 2005 e 2012, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM). O órgão aponta que, em sete anos, houve uma redução de 41.713 leitos hospitalares no Sistema Único de Saúde (SUS). O estado mais prejudicado pela queda é Mato Grosso do Sul, com uma perda de 26,6% dos leitos. Confira aqui
Em meio a este cenário conturbado, assistimos incrédulos ao nosso Ministro da Saúde na inauguração de um Centro Médico na Palestina, construído com 10 milhões de dólares doados pelo Governo Brasileiro.
Sabendo do descaso governamental com as políticas de saúde, voltemos ao suposto problema da falta de médicos. Como foi dito, não há falta desses profissionais em número absoluto, mas há sim, uma concentração dos mesmos em grandes centros. Por que o médico não quer trabalhar no interior ? Existem inúmeros motivos que podem ser citados:
. Trabalhar em condições insalubres- mofo, infiltrações, risco de doenças por ratos por exemplo. Acesso ao centro de saúde por estradas de terra, em carros da prefeitura sem manutenção, em condições precárias não garantindo a mínima segurança.
. Trabalhar sem recursos básicos ao atendimento: locais sem maca, inviabilizando um adequado exame físico, exame ginecológico improvisado em mesa sem perneira, falta de lençóis descartáveis para preservar higiene entre pacientes, falta de água ou sabão para higienização das mãos, falta de iluminação para pequenos procedimentos cirúrgicos, campos cirúrgicos improvisados, instrumental cirúrgico de má qualidade, sem preensão adequada, tesouras sem corte, aparelhos de pressão descalibrados ou danificados, inexistência de otoscópio, sonar entre outros.
. Trabalhar com constante falta de medicações, sem condições de aliviar o sofrimento do paciente. Faltam também seringas, equipos de soro, fios de sutura e os mais diversos materiais.
. Ser o único médico de uma região, ficando responsável por toda demanda acumulada da população, o que leva a uma sobrecarga de trabalho. Para dar conta do recado,precisa aumentar a velocidade das consultas, com perda da qualidade do atendimento.
. Como único médico de uma região isolada, é grande a chance de receber também casos de urgência, e se ver sem instrumentos, medicações ou hospitais a uma distância razoável que permitam um encaminhamento a tempo.
. Impossibilidade em solicitar ou obter resultados de exames em tempo hábil, mesmo os mais básicos. O médico só é autorizado a pedir um número restrito de exames por mês , os pedidos entram em longas filas de espera colocando o paciente em situação de risco; certos tipos de exames sequer existem.
. Estar na linha de frente de um sistema de péssima qualidade, sendo a única entidade a quem o paciente tem acesso para poder culpar, demonstrar insatisfação, se revoltar. Com isso, pode sofrer ameaças ou mesmo agressões
. Colocar a carreira em risco, quando por falta de recursos não puder dar ao paciente a assistência necessária, sendo responsabilizado judicialmente
. Vinculos precários, sem direitos trabalhistas, contratos muitas vezes apenas verbais. Médico se muda para a região com sua família sem qualquer garantia de recebimento dos salários, dependendo da boa vontade do prefeito. Muitos recebem um valor bem abaixo do combinado, enquanto outros deixam de receber por vários meses.
. Estabelecer-se em locais em que não há acesso a escolas de qualidade em que o médico gostaria de investir para a criação de seus filhos
. Isolamento do médico, que necessita de constante atualização através de cursos, palestras, congressos, dificultando sua atualização e progressão na carreira
. Trabalhar sem recursos básicos ao atendimento: locais sem maca, inviabilizando um adequado exame físico, exame ginecológico improvisado em mesa sem perneira, falta de lençóis descartáveis para preservar higiene entre pacientes, falta de água ou sabão para higienização das mãos, falta de iluminação para pequenos procedimentos cirúrgicos, campos cirúrgicos improvisados, instrumental cirúrgico de má qualidade, sem preensão adequada, tesouras sem corte, aparelhos de pressão descalibrados ou danificados, inexistência de otoscópio, sonar entre outros.
. Trabalhar com constante falta de medicações, sem condições de aliviar o sofrimento do paciente. Faltam também seringas, equipos de soro, fios de sutura e os mais diversos materiais.
. Ser o único médico de uma região, ficando responsável por toda demanda acumulada da população, o que leva a uma sobrecarga de trabalho. Para dar conta do recado,precisa aumentar a velocidade das consultas, com perda da qualidade do atendimento.
. Como único médico de uma região isolada, é grande a chance de receber também casos de urgência, e se ver sem instrumentos, medicações ou hospitais a uma distância razoável que permitam um encaminhamento a tempo.
. Impossibilidade em solicitar ou obter resultados de exames em tempo hábil, mesmo os mais básicos. O médico só é autorizado a pedir um número restrito de exames por mês , os pedidos entram em longas filas de espera colocando o paciente em situação de risco; certos tipos de exames sequer existem.
. Estar na linha de frente de um sistema de péssima qualidade, sendo a única entidade a quem o paciente tem acesso para poder culpar, demonstrar insatisfação, se revoltar. Com isso, pode sofrer ameaças ou mesmo agressões
. Colocar a carreira em risco, quando por falta de recursos não puder dar ao paciente a assistência necessária, sendo responsabilizado judicialmente
. Vinculos precários, sem direitos trabalhistas, contratos muitas vezes apenas verbais. Médico se muda para a região com sua família sem qualquer garantia de recebimento dos salários, dependendo da boa vontade do prefeito. Muitos recebem um valor bem abaixo do combinado, enquanto outros deixam de receber por vários meses.
. Estabelecer-se em locais em que não há acesso a escolas de qualidade em que o médico gostaria de investir para a criação de seus filhos
. Isolamento do médico, que necessita de constante atualização através de cursos, palestras, congressos, dificultando sua atualização e progressão na carreira
Muitos continuam pensando: Nada disso interessa ! É de vidas humanas que estamos falando e o médico deveria aceitar ir assim mesmo !
Deveria ? Todo profissional procura saber das condições de um emprego ao qual vai se submeter, busca alguma qualidade de vida, e o médico deve ser o único profissional que passa por cima disso e se sacrifica a qualquer custo?
Classifico como uma completa covardia jogar na conta dos médicos o sofrimento destes pacientes. Isso isenta o governo de sua responsabilidade em fixar profissionais, que iriam voluntariamente para essas regiões, como acontece em qualquer país sério. Isso seria conseguido caso o governo realmente aplicasse o dinheiro dos impostos na infra-estrutura dos serviços ,melhorando sua qualidade, disponibilizando mais verbas para medicações e exames , criando uma carreira de estado para o médico, que o encorajaria a se fixar nessas cidades com suas famílias sem o medo de não receber seus salários e permitindo a esse médico a progressão na carreira. Não é justo que um profissional que investe cerca de 10 anos de muita dedicação e estudos em sua formação, possa almejar progredir ao longo da carreira ? Médico não pode cansar, não pode querer um ambiente de trabalho razoável, tem que assistir impotente seus pacientes sofrerem, tem que levar calote, tem que ficar estagnado em sua carreira, tudo isso calado e satisfeito porque é em prol da saúde dos outros?
Se a população parasse com essa postura de aceitar que no Brasil a saúde “é assim mesmo” e que o médico é que tem que se adaptar e “trabalhar do jeito que está”, o foco dessa discussão poderia ser outro. A população estaria revoltada não com os médicos, mas com o governo, já que não vê seus impostos sendo aplicados de modo a sequer prover o básico para que o médico possa se instalar e trabalhar numa pequena cidade. Percebam que a mesma estrutura que assegura ao médico a possibilidade de trabalhar, traz aos pacientes melhor atendimento, mais conforto, menos filas, maior acesso aos medicamentos. Lutar do lado dos médicos traz benefícios a toda população, enquanto lutar contra os médicos ao lado do governo, retira deste as pressões para melhorias definitivas na saúde que estão sendo adiadas há anos.
Existe também outro argumento: mas não dá tempo de esperar que toda uma mudança estrutural seja feita no sistema de saúde para que só então os médicos atuem nessas áreas. A situação é de urgência, há pessoas morrendo !
. Então eu lhes pergunto- com 3 anos de governo Dilma, ficou urgente levar médicos para essas regiões só agora ? Justo quando se inicia a corrida pelas eleições presidenciais de 2014 e quando o Ministro Alexandre Padilha se lança como candidato ao governo de São Paulo ? Estou errada em desconfiar que essas medidas possuam um caráter eleitoreiro? A vinda de médicos em massa toca no ponto fraco da população carente de assistência, que entende a existência do médico como existência de saúde. É uma medida relativamente barata perto do impacto que causa, não resolve verdadeiramente o problema, e fica bem na televisão a chegada de uma enxurrada de médicos estrangeiros balançando bandeirinhas.
. E se há 03 anos atrás, esse mesmo governo Dilma já tivesse iniciado uma reforma para destinar um financiamento adequado ao SUS, investindo em medicação, máquinas para exames, iniciando a construção de novas Unidades de Saúdes, UPAs, Hospitais e reformando as que já existem? Será que hoje, em 2013, já não poderíamos oferecer aos pacientes e aos médicos uma estrutura infinitamente melhor do que a que temos no momento? Insiste-se que melhorias de infra-estrutura são lentas, mas quando é necessário erguer estádios ou outras construções para a Copa do Mundo, tudo acontece muito rápido. E o que dizer da criação de uma carreira de estado para o médico, que poderia rapidamente fixá-los no interior, ao garantir o recebimento dos salários e a progressão na carreira? Também é uma medida demorada de se implementar? Então por que o governo não atende a essa reivindicação?
Classifico como uma completa covardia jogar na conta dos médicos o sofrimento destes pacientes. Isso isenta o governo de sua responsabilidade em fixar profissionais, que iriam voluntariamente para essas regiões, como acontece em qualquer país sério. Isso seria conseguido caso o governo realmente aplicasse o dinheiro dos impostos na infra-estrutura dos serviços ,melhorando sua qualidade, disponibilizando mais verbas para medicações e exames , criando uma carreira de estado para o médico, que o encorajaria a se fixar nessas cidades com suas famílias sem o medo de não receber seus salários e permitindo a esse médico a progressão na carreira. Não é justo que um profissional que investe cerca de 10 anos de muita dedicação e estudos em sua formação, possa almejar progredir ao longo da carreira ? Médico não pode cansar, não pode querer um ambiente de trabalho razoável, tem que assistir impotente seus pacientes sofrerem, tem que levar calote, tem que ficar estagnado em sua carreira, tudo isso calado e satisfeito porque é em prol da saúde dos outros?
Se a população parasse com essa postura de aceitar que no Brasil a saúde “é assim mesmo” e que o médico é que tem que se adaptar e “trabalhar do jeito que está”, o foco dessa discussão poderia ser outro. A população estaria revoltada não com os médicos, mas com o governo, já que não vê seus impostos sendo aplicados de modo a sequer prover o básico para que o médico possa se instalar e trabalhar numa pequena cidade. Percebam que a mesma estrutura que assegura ao médico a possibilidade de trabalhar, traz aos pacientes melhor atendimento, mais conforto, menos filas, maior acesso aos medicamentos. Lutar do lado dos médicos traz benefícios a toda população, enquanto lutar contra os médicos ao lado do governo, retira deste as pressões para melhorias definitivas na saúde que estão sendo adiadas há anos.
Existe também outro argumento: mas não dá tempo de esperar que toda uma mudança estrutural seja feita no sistema de saúde para que só então os médicos atuem nessas áreas. A situação é de urgência, há pessoas morrendo !
. Então eu lhes pergunto- com 3 anos de governo Dilma, ficou urgente levar médicos para essas regiões só agora ? Justo quando se inicia a corrida pelas eleições presidenciais de 2014 e quando o Ministro Alexandre Padilha se lança como candidato ao governo de São Paulo ? Estou errada em desconfiar que essas medidas possuam um caráter eleitoreiro? A vinda de médicos em massa toca no ponto fraco da população carente de assistência, que entende a existência do médico como existência de saúde. É uma medida relativamente barata perto do impacto que causa, não resolve verdadeiramente o problema, e fica bem na televisão a chegada de uma enxurrada de médicos estrangeiros balançando bandeirinhas.
. E se há 03 anos atrás, esse mesmo governo Dilma já tivesse iniciado uma reforma para destinar um financiamento adequado ao SUS, investindo em medicação, máquinas para exames, iniciando a construção de novas Unidades de Saúdes, UPAs, Hospitais e reformando as que já existem? Será que hoje, em 2013, já não poderíamos oferecer aos pacientes e aos médicos uma estrutura infinitamente melhor do que a que temos no momento? Insiste-se que melhorias de infra-estrutura são lentas, mas quando é necessário erguer estádios ou outras construções para a Copa do Mundo, tudo acontece muito rápido. E o que dizer da criação de uma carreira de estado para o médico, que poderia rapidamente fixá-los no interior, ao garantir o recebimento dos salários e a progressão na carreira? Também é uma medida demorada de se implementar? Então por que o governo não atende a essa reivindicação?
. Suponhamos que estas não sejam medidas eleitoreiras, e que a intenção do governo seja realmente a de ajudar a população necessitada com a vinda de médicos cubanos. Seria essa uma estratégia inteligente? Os 4.000 médicos cubanos custarão ao Brasil R$40 milhões por mês, cerca de R$ 480 milhões por ano. O resultado desse investimento: a simples existência do médico nas regiões contempladas, desacompanhada de outras contrapartidas como infra-estrutura, exames e medicamentos.
O que pode fazer um médico sem uma maca, um sonar, um exame de sangue, um remédio ? Pode sim aconselhar, acalmar pacientes que se sentirão menos angustiados por terem sido vistos pelo “doutor”, tratar empiricamente algumas suspeitas (isso quando conseguir a medicação) sem uma investigação mais aprofundada, o que pode vir a trazer mais riscos do que benefícios ao paciente.
Um paciente que queixa sentir-se “cansado”, poderá ser tratado empiricamente com sulfato ferroso para corrigir uma suposta anemia, quando na verdade apresenta perda da função cardíaca por uma doença coronariana, com indicação de uma cirurgia de revascularização do miocárdio. Com a consulta e a prescrição de sulfato ferroso, considera-se que esse paciente “já foi atendido”, voltando o mesmo para casa, perdendo uma chance preciosa (talvez a única) de evitar um infarto ou outros eventos que o levarão ao óbito.
Suponhamos então um outro paciente, 60 anos, em que o médico teve acesso a um hemograma , constatando agora, por exame, que há uma anemia. Esse paciente pode receber o mesmo tratamento com sulfato ferroso e voltar para casa, quando na verdade seria necessário uma investigação com endoscopia digestiva alta e colonoscopia, que poderiam evidenciar por exemplo, um câncer de colon com chances de tratamento.
Se o acesso a esses exames não aumentar proporcionalmente, mais médicos só significam mais pacientes sendo falsamente avaliados. Existem sim casos muito simples de serem tratados, e é muito fácil prescrever o tratamento quando se tem certeza do que é. O difícil, é diferenciar os casos simples dos complexos, realizar o diagnóstico diferencial sem acesso ao mínimo de recursos. Gente “pobre” também morre de doenças complicadas ! É imperativo que se salvem a vida de pacientes ameaçados por quadros de diarreia, mas se a vida estiver ameaçada por um câncer ou insuficiência renal com necessidade de transplante, não há a mesma urgência em se salvar essas vidas?
É por isso que deve-se questionar, se esses R$480 milhões por ano não poderiam ser investidos em medidas que trariam um benefício maior à população. Como muitos dizem, algum médico é melhor que médico nenhum, mas se um investimento de R$ 480 milhões em médicos cubanos como resultado salva um número X de vidas, enquanto R$ 480 milhões investidos de outra forma salvariam um número 2X de vidas, não podemos admitir esse desperdício de recursos. Se a verba não for investida em medidas que tragam resultados definitivos, o que teremos de mudanças na estrutura da saúde no Brasil daqui a 3 anos ?
“Quando um país que bate recordes de arrecadação tem que recorrer a medidas similares aos "Médicos Sem Fronteiras" para "socorrer" sua própria população (e não está em guerra, calamidade ou situação extrema), não devemos comemorar e sim refletir sobre o que deu errado.” Leonardo Savassi
Por fim, resta analisar a forma como esse acordo com Cuba foi realizado. Os R$ 10.000 reais mensais por médico serão pagos pelo Brasil diretamente ao governo cubano. Desse valor, apenas pequena parte será repassada aos médicos, ficando todo o restante injetado no governo de Cuba . Esses médicos exercerão sua profissão sem direitos trabalhistas, recebendo uma quantia bem inferior à dos médicos do Brasil, estando ainda impedidos de trazerem suas famílias para acompanhá-los.
Seguem abaixo links para referências no assunto:
Deixe seus comentários e opiniões !
MPT averigua vinda de médicos cubanos- há irregularidades visíveis
Respostas do senador Humberto Costa
Respostas do senador Humberto Costa
Alexandre Garcia expõe a verdade sobre a vinda dos médicos cubanos
OBS: Meu texto foi misteriosamente apagado e estou repostando
Deborah C. Gomes
Médica graduada na UFMG
Médica graduada na UFMG
Nenhum comentário:
Postar um comentário